6 de março de 2014

O Sporting é um clube de guarda-redes - Jaguaré




"Stuhlfauth não foi o único guarda-redes a começar a abandonar o conforto da sua linha. Também o fizeram, o brasileiro Jaguaré, um verdadeiro fenómeno que disputou com os argentinos Ángel Rossio e Juan Botasso e com o uruguaio Andrés Mazali, o título de ser o primeiro grande guarda-redes sul-americano. (...)

Mas, no entanto, foi Jaguaré, tanto pela sua forte personalidade como pelo resto, quem se notabilizou mais dos primeiros guarda-redes sul-americanos. Nascido no Rio de Janeiro, em 1905, Jaguaré não teve uma educação formal e trabalhava como estivador quando foi detectado pelo clube Espanhol durante um jogo do clube do seu bairro, Saúde. Teve de aprender a escrever o seu nome de modo a poder assinar as fichas de jogo mas assim que o fez, rapidamente ganhou o lugar e foi contratado pelo Vasco da Gama. Aí, sempre usando um boné branco marinho, venceu um campeonato estadual em 1929 e jogou três jogos não-oficiais pela seleção nacional. A sua paixão por pregar partidas, que incluía fazer passar a bola por cima das cabeças dos avançados, trouxe-lhe muita admiração. Em 1931, Vasco da Gama participou numa digressão a Espanha e Portugal, jogando doze partidas, das quais venceram oito. Jaguaré impressionou, e foi lhe oferecido um contrato pelo Barcelona e também ao médio-centro Fausto dos Santos. As regras da época impediam que os estrangeiros jogassem partidas oficiais e por isso, apesar de Jaguaré ter jogado doze jogos amigáveis, recebendo por isso a alcunha Araña Negra, não podia participar em jogos da Liga, a não ser que se tornasse um cidadão espanhol. (...) Dos Santos foi para a Suíça, enquanto Jaguaré regressou ao Brasil.

Aí, começou a aparecer nos treinos do Vasco usando luvas que tinha trazido da Europa, o primeiro exemplo de guarda-redes a usar luvas na América do Sul. (...) Afinal, acabou por assinar pelo Corinthians, de São Paulo, mas quando contrataram depois József Lengyel, um guarda-redes húngaro, estava claro que os seus dias no clube estavam contados. (...)

Uma solução foi apresentada por Fernando Giudicelli, um talentoso centro-campista que jogou pelo Brasil no Campeonato do Mundo de 1930, antes de se ter tornado profissional na Europa. Uma carreira itinerante levou-o para o Torino, Young Fellows da Suíca e Bordéus, ao mesmo tempo que actuava como agente, ajudava jogadores amadores brasileiros a arranjar clubes na Europa. Giudicelli insistiu que conseguiria arranjar clubes em Itália, tanto para Jaguaré como para o defesa Vianinha. No entanto, assim que o seu navio tinha acabado de atravessar o Atlântico, tinha começado a Guerra Ítalo-Etíope, e por isso os três decidiram ficar em Portugal, todos eles assinando pelo Sporting. Nenhum durou muito tempo, embora Jaguaré sempre venceu o Campeonato de Lisboa antes de ser deposto do lugar por João Azevedo, que venceu sete títulos da Liga durante a sua década e meio no clube. Jaguaré foi para a França, assinando pelo Olympique de Marseille, no verão de 1936.(...)

Durante esses três anos [no Marseille], 'El Jaguar', como foi baptizado, tornou-se famoso por usar um boné branco, que costumava atirar aos seus opositores quando estes se preparavam para marcar penalties, e pelo seu hábito de pedir aos avançados contrários que se preparavam para rematar à sua baliza, gritando-lhes "Chuta! Chuta!" (...)

Jaguaré deixou Marselha em 1939. (...) Ainda fez uma breve paragem em Portugal, jogando nove partidas pelo Académico, antes de regressar ao Brasil. (...) Em Agosto de 1946 foi preso. Exactamente porquê, nunca se soube, mas sofreu uma pancada na cabeça resultante ou de um confronto com um polícia ou mais tarde na cela, e morreu como consequência, sendo sepultado numa campa rasa."

in The Outsider - A History of the Goalkeeper, de Jonathan Wilson, págs, 101, 102, 103 e 104









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